“Em todos os teus atos, ditos e pensamentos, procede como se houvesse de deixar a vida dentro de pouco.”
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“Não procedas como se houvesses de durar dez milênios; o fim inevitável pende sobre ti…”
* * * *“Da vida humana, a duração é um ponto; a substância, fluida; a sensação, apagada; a composição de todo corpo, putrescível; a alma, inquieta; a sorte, imprevisível; a fama, incerta.
Em suma, tudo que é do corpo é um rio; o que é da alma, sonho e névoa; a vida, uma guerra, um desterro; a fama póstuma, olvido.
O que, pois, pode servir-nos de guia? Só e única a Filosofia. Consiste ela em guardar o nume interior livre de insolências e danos, mais forte que os prazeres e mágoas, nada fazendo com leviandade, engano e dissimulação, nem precisando que outrem faça ou deixe de fazer nada, acatando, ainda, os eventos e quinhões que lhe tocam, como vindos da mesma origem qualquer donde vem ele próprio; sobretudo, aguardando de boa mente a morte, qual mera dissolução dos elementos de que se compõe cada um dos viventes.
Se os elementos mesmos nada têm a recear da contínua transformação de cada um em outro, por que havemos de temer a transformação e dissolução do todo? Ela é conforme com a natureza e não existe nenhum mal conforme com a natureza.”
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“Exíguo, pois, é o que cada um vive; exíguo, o cantinho de terra onde vive; exígua até a mais longa memória na posteridade, essa mesma transmitida por uma sucessão de homúnculos morrediços, que nem a si próprios conhecem, quanto menos a alguém falecido há muito.”
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“Quem se deixa fascinar pela glória póstuma não imagina que cada um dos que o hão de lembrar morrerá logo por sua vez, e depois também quem dele receber a lembrança, até se extinguir toda recordação na sucessão de fachos que se acendem e apagam…”
MARCO AURÉLIO (121-180 d.C.),
imperador romano e filósofo estóico,
em trechos das “Meditações”.
Publicado em: 01/05/11
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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